terça-feira, 11 de junho de 2013

Situações de aprendizagem

SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM: TEXTO “MEU PRIMEIRO BEIJO” – Antônio Barreto

É difícil acreditar, mas meu primeiro beijo foi num ônibus, na volta da escola. E sabem com quem? Com o Cultura Inútil! Pode? Até que foi legal. Nem eu nem ele sabíamos exatamente o que era "o beijo". Só de filme. Estávamos virgens nesse assunto, e morrendo de medo. Mas aprendemos. E foi assim...

Não sei se numa aula de Biologia ou de Química, o Culta tinha me mandado um dos seus milhares de bilhetinhos:

“Você é a glicose do meu metabolismo.

Te amo muito!

Para Celso"

E assinou com uma letrinha miúda: Para Celso. Para Celso era outro apelido dele. Assinou com letrinha tão minúscula que quase tive dó, tive pena, instinto maternal, coisas de mulher...E também não sei por que: resolvi dar uma chance pra ele, mesmo sem saber que tipo de lance ia rolar.

No dia seguinte, depois do inglês, pediu pra me acompanhar até em casa. No ônibus, veio com o seguinte papo:

- Um beijo pode deixar a gente exausto, sabia? - Fiz cara de desentendida.

Mas ele continuou:

- Dependendo do beijo, a gente põe em ação 29 músculos, consome cerca de 12 calorias e acelera o coração de 70 para 150 batidas por minuto. - Aí ele tomou coragem e pegou na minha mão. Mas continuou salivando seus perdigotos:

- A gente também gasta, na saliva, nada menos que 9 mg de água; 0,7 mg de albumina; 0,18 g de substâncias orgânica; 0,711 mg de matérias graxas; 0,45 mg de sais e pelo menos 250 bactérias...

Aí o bactéria falante aproximou o rosto do meu e, tremendo, tirou seus óculos, tirou os meus, e ficamos nos olhando, de pertinho. O bastante para que eu descobrisse que, sem os óculos, seus olhos eram bonitos e expressivos, azuis e brilhantes. E achei gostoso aquele calorzinho que envolvia o corpo da gente. Ele beijou a pontinha do meu nariz, fechei os olhos e senti sua respiração ofegante. Seus lábios tocaram os meus. Primeiro de leve, depois com mais força, e então nos abraçamos de bocas coladas, por alguns segundos.

E de repente o ônibus já havia chegado no ponto final e já tínhamos transposto , juntos, o abismo do primeiro beijo.

Desci, cheguei em casa, nos beijamos de novo no portão do prédio, e aí ficamos apaixonados por várias semanas. Até que o mundo rolou, as luas vieram e voltaram, o tempo se esqueceu do tempo, as contas de telefone aumentaram, depois diminuíram...e foi ficando nisso. Normal. Que nem meu primeiro beijo. Mas foi inesquecível!

BARRETO, Antonio. Meu primeiro beijo. Balada do primeiro amor. São Paulo: FTD, 1977. p. 134-6


Público alvo: 8º ano

01. Leitura compartilhada

02. Por que a menina chama o menino de “Cultura Inútil”? Por que os apelidos “O Culta”, “ Para Celso”? – Vocabulário (inferência local)

03. Após o primeiro beijo o relacionamento durou muito ou pouco? Justifique com uma passagem do texto (Inferência Global)

04. Discussão: análise do texto (Contexto de Produção)

05. Intertextualidade: música Eduardo e Mônica do Legião Urbana; e o poema “Dúvida” do Chacal;

06. Interdiscursividade: Trabalhar com as diferentes linguagens entre o menino e a menina apresentadas no decorrer do texto.

07. Produto Final: Recontar a história por meio de recorte e cole e, depois, apresentada por meio de encenação.


SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM: TEXTO “PECHADA” – Luís Fernando Veríssimo

O apelido foi instantâneo. No primeiro dia de aula, o aluno novo já estava sendo chamado de "Gaúcho". Porque era gaúcho. Recém-chegado do Rio Grande do Sul, com um sotaque carregado.

– Aí, Gaúcho!

– Fala, Gaúcho!

Perguntaram para a professora por que o Gaúcho falava diferente. A professora explicou que cada região tinha seu idioma, mas que as diferenças não eram tão grandes assim. Afinal, todos falavam português. Variava a pronúncia, mas a língua era uma só. 

E os alunos não achavam formidável que num país do tamanho do Brasil todos falassem a mesma língua, só com pequenas variações?

– Mas o Gaúcho fala "tu"! – disse o gordo Jorge, que era quem mais implicava com o novato.

– E fala certo - disse a professora.

 – Pode-se dizer "tu" e pode-se dizer "você". Os dois estão certos. Os dois são português.

O gordo Jorge fez cara de quem não se entregara.Um dia o Gaúcho chegou tarde na aula e explicou para a professora o que acontecera.

– O pai atravessou a sinaleira e pechou.

– O que?

– O pai. Atravessou a sinaleira e pechou. A professora sorriu. Depois achou que não era caso para sorrir. Afinal, o pai do menino atravessara uma sinaleira e pechara. Podia estar, naquele momento, em algum hospital. Gravemente pechado. Com pedaços de sinaleira sendo retirados do seu corpo.

– O que foi que ele disse, tia? – quis saber o gordo Jorge.

– Que o pai dele atravessou uma sinaleira e pechou.

– E o que é isso?– Gaúcho... Quer dizer, Rodrigo: explique para a classe o que aconteceu.– Nós vinha...

– Nós vínhamos.

– Nós vínhamos de auto, o pai não viu a sinaleira fechada, passou no vermelho e deu uma pechada noutro auto. A professora varreu a classe com seu sorriso. Estava claro o que acontecera? Ao mesmo tempo, procurava uma tradução para o relato do gaúcho. Não podia admitir que não o entendera. Não com o gordo Jorge rindo daquele jeito."Sinaleira", obviamente, era sinal, semáforo. "Auto" era automóvel, carro. Mas "pechar" o que era? Bater, claro.  Mas de onde viera aquela estranha palavra? 

Só muitos dias depois a professora descobriu que "pechar" vinha do espanhol e queria dizer bater com o peito, e até lá teve que se esforçar para convencer o gordo Jorge de que era mesmo brasileiro o que falava o novato. Que já ganhara outro apelido: Pechada.

– Aí, Pechada!

 – Fala, Pechada!

http://revistaescola.abril.com.br/fundamental-1/pechada-634220.shtml



Público alvo: 7º ano

01.  Atividade de conhecimento:
 Vocês conhecem alguém que possui um vocabulário diferente do usual?
Alguém já ouviu a palavra “pechada”? O que vocês acham que significa?

02.  Localização de informações:
Leitura compartilhada e após discussão: Vocês sabem em qual região do Brasil se localiza o estado do Rio Grande do Sul?

03.  Inferências locais /inferências globais:
Levantamento do vocabulário (pechada, auto, sinaleiro e outros);
Variação linguística.

04.  Recuperação de contexto de produção:
Qual é o autor? Quem são as personagens? Qual é o gênero do texto? Em que local se passa a história?

05.  Intertextualidade/Interdiscursividade:
Variação linguística por meio de texto do autor Patativa de Assaré;
Linguagem do gaúcho com os outros colegas.

06.  Percepção de outras linguagens:
Apresentar o gênero repente, exemplificando com música de Cajú e Castanha;
Produção de um repente, sendo um da região sul e outro da região sudeste.


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